Entendendo este tempo de conversão: QUARESMA

Iniciando-se na quarta-feira de cinzas, dia de Jejum e abstinência, a quaresma insere as comunidades num tempo privilegiado da Graça de Deus. Somos chamados a reorientar nossas vidas no Caminho de Jesus através deste tempo de graça, retomando nosso Plano de Vida Espiritual com empenho, piedade e fervor. Leia algumas orientações simples para vivência deste tempo.
Quaresma

“Tu és pó e ao pó retornarás” cf Ecl 12,7

O que é?
A quaresma é o tempo de conversão, que a Igreja marca no Calendário Litúrgico para nos preparar para a grande festa da Páscoa que é o Evento mais importante para os católicos onde se
comemora a Ressurreição do Senhor. Iniciando na Quarta-feira de Cinzas e terminando no Domingo de Ramos, tem sua duração de 40 dias.

Por que 40 dias?

A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número quarenta na Bíblia. Nesta, encontramos várias citações como: quarenta dias do dilúvio, quarenta anos de peregrinação do
povo hebreu pelo deserto, quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública. Mostra tempo propício e proporcionado pela graça de Deus ao ser humano e à comunidade, para renovação humana através da purificação para alcançar a vida nova.

Por que usa-se o roxo como a cor litúrgica predominante na Quaresma?

Usa-se o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo e preparação para o mistério pascal.

Na Quarta-Feira de Cinzas, qual o significado do rito de imposição da cinza na cabeça?

Nos primeiros século, somente os grupos de penitentes ou pecadores que queriam receber a reconciliação no final da quaresma é que submetiam a este rito. Posteriormente, com o final desses grupos, o Papa Urbano II estendeu este rito a todos os cristãos. As cinzas são o símbolo da morte e do nada da criatura em relação a seu Criador. Obtêm-se por meio da queima dos ramos de palmeiras e de oliveiras abençoados no ano anterior, na celebração do Domingo de Ramos.

A Quaresma é um Tempo Penitencial?

Sim, a Quaresma é um tempo de penitência. A atitude espiritual expressa por esta palavra, penitência, inúmeras vezes pelos profetas e por Jesus Cristo, é uma atitude muito rica. Começa pelo arrependimento, com isto vem o desejo de reparação, e de reconciliação com Deus e com os irmãos, chegando à emenda de vida e mais ainda à conversão cristã, que é é uma passagem à fé e à caridade.

O que é Penitência?

Penitência é a tradução latina da palavra grega que na Bíblia significa conversão (mudança espiritual) do pecador para Deus. Converter é convergir, ou seja, orientar aquilo que em nós não corresponde ao Caminho de Deus para o Senhorio de Jesus, pois “aquele que peca é do demônio, porque o demônio peca desde o princípio. Eis porque o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do demônio” 1 Jo 3,8

Devo praticar o jejum e a abstinência neste tempo?

A Igreja e o Santos Padres, nos ensinam que o Jejum e Abstinência tem uma importante finalidade: o domínio de nossas paixões ou o domínio dos “vícios” espirituais, trazendo sob o comando da razão os instintos do corpo.

Existem várias práticas de Jejum, mas o jejum prescrito e adequado é quando abstém-se de uma das refeições, almoço ou jantar, substituindo por um alimento simples. A abstinência é quando se retira um dos alimentos das refeições. A Igreja nos imputa como dever ou mandamento, o jejum e a abstinência de carne, na Quarta-Feira de Cinzas e depois terminada a Quaresma, na Sexta-Feira Santa. Ficam dispensados deste mandamento da Igreja, os enfermos e idosos.

A Quaresma e o Plano de Vida proposto para as células

A Igreja neste tempo nos convida a um esforço maior na oração, a estarmos mais presentes diante de Deus, a atentarmos, mais do que nunca, o nosso Plano de Vida. Ótimo momento para realizar o “retiro da boa morte”, retirando todo o supérfluo e doando-o aos mais pobres.

Através do Exame de Consciência realizar a confissão dos pecados através do Sacramento da Reconciliação. Além disso, a Igreja nos chama a retomar a vida interior através da Reunião em Comum, Oração e da leitura diária do Evangelho, recitação da Liturgia das Horas (para as comunidades que já assumiram este compromisso).

A Mensagem do Papa para a Quaresma – 2018

Em mensagem publicada pelo Boletim da Santa Sé, Papa Francisco nos deixa sua mensagem para melhor vivermos a quaresma!

“Mais uma vez vamos encontrar-nos com a Páscoa do Senhor! Todos os anos, com a finalidade de nos preparar para ela, Deus na sua providência oferece-nos a Quaresma, «sinal sacramental da nossa conversão»,[1] que anuncia e torna possível voltar ao Senhor de todo o coração e com toda a nossa vida.

Com a presente mensagem desejo, este ano também, ajudar toda a Igreja a viver, neste tempo de graça, com alegria e verdade; faço-o deixando-me inspirar pela seguinte afirmação de Jesus, que aparece no evangelho de Mateus: «Porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos» (24, 12).

Esta frase situa-se no discurso que trata do fim dos tempos, pronunciado em Jerusalém, no Monte das Oliveiras, precisamente onde terá início a paixão do Senhor. Dando resposta a uma pergunta dos discípulos, Jesus anuncia uma grande tribulação e descreve a situação em que poderia encontrar-se a comunidade dos crentes: à vista de fenómenos espaventosos, alguns falsos profetas enganarão a muitos, a ponto de ameaçar apagar-se, nos corações, o amor que é o centro de todo o Evangelho.

Os falsos profetas

Escutemos este trecho, interrogando-nos sobre as formas que assumem os falsos profetas?

Uns assemelham-se a «encantadores de serpentes», ou seja, aproveitam-se das emoções humanas para escravizar as pessoas e levá-las para onde eles querem. Quantos filhos de Deus acabam encandeados pelas adulações dum prazer de poucos instantes que se confunde com a felicidade! Quantos homens e mulheres vivem fascinados pela ilusão do dinheiro, quando este, na realidade, os torna escravos do lucro ou de interesses mesquinhos! Quantos vivem pensando que se bastam a si mesmos e caem vítimas da solidão!

Outros falsos profetas são aqueles «charlatães» que oferecem soluções simples e imediatas para todas as aflições, mas são remédios que se mostram completamente ineficazes: a quantos jovens se oferece o falso remédio da droga, de relações passageiras, de lucros fáceis mas desonestos! Quantos acabam enredados numa vida completamente virtual, onde as relações parecem mais simples e ágeis, mas depois revelam-se dramaticamente sem sentido! Estes impostores, ao mesmo tempo que oferecem coisas sem valor, tiram aquilo que é mais precioso como a dignidade, a liberdade e a capacidade de amar. É o engano da vaidade, que nos leva a fazer a figura de pavões para, depois, nos precipitar no ridículo; e, do ridículo, não se volta atrás. Não nos admiremos! Desde sempre o demónio, que é «mentiroso e pai da mentira» (Jo 8, 44), apresenta o mal como bem e o falso como verdadeiro, para confundir o coração do homem. Por isso, cada um de nós é chamado a discernir, no seu coração, e verificar se está ameaçado pelas mentiras destes falsos profetas. É preciso aprender a não se deter no nível imediato, superficial, mas reconhecer o que deixa dentro de nós um rasto bom e mais duradouro, porque vem de Deus e visa verdadeiramente o nosso bem.

Um coração frio

Na Divina Comédia, ao descrever o Inferno, Dante Alighieri imagina o diabo sentado num trono de gelo;[2] habita no gelo do amor sufocado. Interroguemo-nos então: Como se resfria o amor em nós? Quais são os sinais indicadores de que o amor corre o risco de se apagar em nós?

O que apaga o amor é, antes de mais nada, a ganância do dinheiro, «raiz de todos os males» (1 Tm 6, 10); depois dela, vem a recusa de Deus e, consequentemente, de encontrar consolação n’Ele, preferindo a nossa desolação ao conforto da sua Palavra e dos Sacramentos.[3] Tudo isto se permuta em violência que se abate sobre quantos são considerados uma ameaça para as nossas «certezas»: o bebé nascituro, o idoso doente, o hóspede de passagem, o estrangeiro, mas também o próximo que não corresponde às nossas expetativas.

A própria criação é testemunha silenciosa deste resfriamento do amor: a terra está envenenada por resíduos lançados por negligência e por interesses; os mares, também eles poluídos, devem infelizmente guardar os despojos de tantos náufragos das migrações forçadas; os céus – que, nos desígnios de Deus, cantam a sua glória – são sulcados por máquinas que fazem chover instrumentos de morte.

E o amor resfria-se também nas nossas comunidades: na Exortação apostólica Evangelii gaudium procurei descrever os sinais mais evidentes desta falta de amor. São eles a acédia egoísta, o pessimismo estéril, a tentação de se isolar empenhando-se em contínuas guerras fratricidas, a mentalidade mundana que induz a ocupar-se apenas do que dá nas vistas, reduzindo assim o ardor missionário.[4]

Que fazer?

Se porventura detectamos, no nosso íntimo e ao nosso redor, os sinais acabados de descrever, saibamos que, a par do remédio por vezes amargo da verdade, a Igreja, nossa mãe e mestra, nos oferece, neste tempo de Quaresma, o remédio doce da oração, da esmola e do jejum.

Dedicando mais tempo à oração, possibilitamos ao nosso coração descobrir as mentiras secretas, com que nos enganamos a nós mesmos,[5] para procurar finalmente a consolação em Deus. Ele é nosso Pai e quer para nós a vida.

A prática da esmola liberta-nos da ganância e ajuda-nos a descobrir que o outro é nosso irmão: aquilo que possuo, nunca é só meu. Como gostaria que a esmola se tornasse um verdadeiro estilo de vida para todos! Como gostaria que, como cristãos, seguíssemos o exemplo dos Apóstolos e víssemos, na possibilidade de partilhar com os outros os nossos bens, um testemunho concreto da comunhão que vivemos na Igreja. A este propósito, faço minhas as palavras exortativas de São Paulo aos Coríntios, quando os convidava a tomar parte na coleta para a comunidade de Jerusalém: «Isto é o que vos convém» (2 Cor 8, 10). Isto vale de modo especial na Quaresma, durante a qual muitos organismos recolhem coletas a favor das Igrejas e populações em dificuldade. Mas como gostaria também que no nosso relacionamento diário, perante cada irmão que nos pede ajuda, pensássemos: aqui está um apelo da Providência divina. Cada esmola é uma ocasião de tomar parte na Providência de Deus para com os seus filhos; e, se hoje Ele Se serve de mim para ajudar um irmão, como deixará amanhã de prover também às minhas necessidades, Ele que nunca Se deixa vencer em generosidade?[6]

Por fim, o jejum tira força à nossa violência, desarma-nos, constituindo uma importante ocasião de crescimento. Por um lado, permite-nos experimentar o que sentem quantos não possuem sequer o mínimo necessário, provando dia a dia as mordeduras da fome. Por outro, expressa a condição do nosso espírito, faminto de bondade e sedento da vida de Deus. O jejum desperta-nos, torna-nos mais atentos a Deus e ao próximo, reanima a vontade de obedecer a Deus, o único que sacia a nossa fome.

Gostaria que a minha voz ultrapassasse as fronteiras da Igreja Católica, alcançando a todos vós, homens e mulheres de boa vontade, abertos à escuta de Deus. Se vos aflige, como a nós, a difusão da iniquidade no mundo, se vos preocupa o gelo que paralisa os corações e a ação, se vedes esmorecer o sentido da humanidade comum, uni-vos a nós para invocar juntos a Deus, jejuar juntos e, juntamente conosco, dar o que puderdes para ajudar os irmãos!

O fogo da Páscoa

Convido, sobretudo os membros da Igreja, a empreender com ardor o caminho da Quaresma, apoiados na esmola, no jejum e na oração. Se por vezes parece apagar-se em muitos corações o amor, este não se apaga no coração de Deus! Ele sempre nos dá novas ocasiões, para podermos recomeçar a amar.

Ocasião propícia será, também este ano, a iniciativa «24 horas para o Senhor», que convida a celebrar o sacramento da Reconciliação num contexto de adoração eucarística. Em 2018, aquela terá lugar nos dias 9 e 10 de março – uma sexta-feira e um sábado –, inspirando -se nestas palavras do Salmo 130: «Em Ti, encontramos o perdão» (v. 4). Em cada diocese, pelo menos uma igreja ficará aberta durante 24 horas consecutivas, oferecendo a possibilidade de adoração e da confissão sacramental.

Na noite de Páscoa, reviveremos o sugestivo rito de acender o círio pascal: a luz, tirada do «lume novo», pouco a pouco expulsará a escuridão e iluminará a assembleia litúrgica. «A luz de Cristo, gloriosamente ressuscitado, nos dissipe as trevas do coração e do espírito»,[7] para que todos possamos reviver a experiência dos discípulos de Emaús: ouvir a palavra do Senhor e alimentar-nos do Pão Eucarístico permitirá que o nosso coração volte a inflamar-se de fé, esperança e amor.

Abençoo-vos de coração e rezo por vós. Não vos esqueçais de rezar por mim.”

Papa Francisco